Bruno Thys

Se eu fosse guia de turismo já teria criado o “roteiro carioca da corrupção”; um tour por endereços emblemáticos da cidade. Há muita coisa pra mostrar e, possivelmente, gente interessada em conhecer os inúmeros marcos da roubalheira oficial. É um programa interessante, também, para os alunos do ensino básico, com um forte viés pedagógico.

O ponto de partida poderia ser a Presidente Vargas, 817, sede Detran, o mais antigo endereço da corrupção na cidade. É uma máquina de arrecadação, algo em torno de R$ 250 milhões/mês e tudo ali envolve propina. É um tradicional símbolo da roubalheira no Estado. Os dois últimos presidentes foram em cana.

Vale uma meia trava ali bem pertinho, no número 370 da Marechal Câmara, prédio do Ministério Público Estadual. A instituição é idônea, mas foi comandada durante dois mandatos seguidos (quatro anos) por um sujeito chamado Cláudio Costa, preso sob a acusação de receber mesada no governo Cabral, entre outras barbaridades.

Segue-se até a Primeiro de Março, sede da Assembleia Legislativa, um dos maiores e mais movimentados balcões de negócios do estado. Mais de uma dúzia de seus deputados entraram, saíram, entraram e saíram novamente da prisão. Ali pontificavam Picciani, Paulo Mello e Albertasi, entre outros gangsters. Picciani era tratado de “dom picciani” por seus pares. Entre os próprios deputados, a Alerj é conhecida como ….“a casa das primas”.

Na Praça da República 70 fica a sede do Tribunal de Contas do Estado. Parada obrigatória. Encarregada de examinar as contas do governo estadual, a instituição teve cinco de seus seis conselheiros presos de uma só vez. Eles cobravam um dinheiro firme pra dar ok a obras superfaturadas, prática batizada no mundo da falcatrua oficial como “taxa de oxigênio”.

Rua da Assembleia 10 é outra visita obrigatória. Ali se reúne a maior e mais antiga quadrilha do Rio, comandada por sucessivas gerações da família Barata. Atende pelo nome de Fetranspor ou máfia dos transportes, dá no mesmo. O atual chefão, Jacó Barata, toda vez que vai em cana, é solto horas depois por Gilmar Mendes. Eles são compadres.

Avenida Chile 65, Petrobras. Também vale uma parada pra ouvir histórias e tirar fotos. É o grande símbolo do saque perpetrado ao país pelo mundo da política. A Petrobras detém o triste recorde de ter sido vítima do maior caso de corrupção do mundo, roubada simultaneamente por PT, PMDB, PP, etc em conluio com seus próprios gestores. A primeira parcial do que foi surrupiado, declarada oficialmente em balanço pela empresa, era de algo em torno de R$ 6 bilhões, mas quem se aprofundou sobre o tema, diz que essa conta passa fácil dos R$ 20 bi.

Pinheiro Machado, Laranjeiras. É um dos pontos altos do tour. Ainda que ninguém vá entrar no Palácio Guanabara, é bom ficar de olho na carteira. Atuaram ali, entre outros, Moreira Franco, o casal Garotinho, Cabral e Pezão.

Seguindo em direção à orla da Zona Sul, cabe uma parada no belo prédio na Avenida Borges de Medeiros, bem em frente ao Clube Naval, na Lagoa. É o endereço de Sérgio Cortes, comandante da quadrilha que assaltou a saúde estadual. Ele teria roubado algo como R$ 300 milhões e investido parte do dinheiro em hospitais privados, de primeiríssima linha. Mora na cobertura do prédio, de 800 metros quadrados.

Outro marco importante do tour fica na Aristides Espínola, quadra da praia, no Leblon, prédio onde morou Cabral, já muito rico. O Apartamento, tem até tampa de privada aquecida e 500 metros quadrados. Só o condomínio e o IPTU consumiam quase o dobro do que o governador ganhava “no oficial”.

Dobrando á direita, na elegante Avenida Delfin Moreira chega-se a dois endereços importantes: o de Cavendish, dono da Delta, a empreiteira do grupo de Cabral e o de George Sadala, o “salada”, amigo-fornecedor, que também enriqueceu do dinheiro público. Os dois – Cavendish e Sadala – são sócios-fundadores da “turma do guardanapo”.

O grand finale é a Rua Célio Nascimento, Benfica. É o atual endereço de Cabral e sua turma, onde Rosinha Garotinho e Adriana Ancelmo dividiram a mesma cela. É o lugar em que Garotinho disse ter levado uns cascudos no meio da madrugada. E o entra e sai não para…tem muita gente boa ali e também muita história pra contar

O tour terminaria em Benfica, mas é importante, neste ponto do passeio, registrar que ainda há muito mais coisas pra ver: a câmara de vereadores, o Presídio de Bangu, endereço atual de políticos e intermediários da corrupção; as casa de Eike Batista, no Jardim Botânico, e de Carlos  Artur Nuzman, no Jardim Pernambuco, que também já estiveram em cana.

Vale ainda oferecer uma extensão do tour ao condomínio Portobello, em Mangaratiba e conhecer a praia particular e as mansões de Cabral, Cortes. Wilson Carlos, Benedito Júnior (da Odebrecht). Nos finais de semana o lugar registrava o maior número de pousos e decolagens de helicópteros do país.

Enfim: o tour da corrupção no Rio é, sobretudo, uma bela oportunidade para conhecer o que foi feito do dinheiro público ou nosso dinheiro, tanto faz, é a mesma coisa.