Bruno Thys

Durante 10 dias respiramos livro dia e noite. Foi nossa primeira Bienal como

editores e nos emocionou participar de uma festa em que a grande estrela é o

livro. Neste curto, mas intenso período, o livro nos aproximou de um monte de

gente bacana. Por nosso estande passaram alunos de escolas públicas e

privadas, professores, amigos, colegas, conhecidos e uma infinidade de

pessoas em busca de boas histórias.

Aprendemos muito, trocamos experiências e, sobretudo, conhecemos alguns

de nossos leitores e gente interessada no tipo de conteúdo que produzimos. A

exceção de noites de autógrafos, o editor raramente tem contato com o

comprador; o percurso vai até o livreiro ou à empresa que faz a conversão para

o formato digital. O “feedback” e os números de vendas são nossos melhores e

mais precisos balizadores.

Tudo era novo pra nós. Estávamos ali, eu e Luiz André Alzer, sócio na Editora

Máquina de Livros, com olhar de quem conhece um lugar familiar, do qual já

ouvira falar. Nos chamou a atenção, em especial, a presença de centenas de

milhares de adolescentes em permanente frenesi, atrás de seus autores

favoritos. Embora muita gente encare com ressalvas o fenômeno da “literatura

teen”, esse é um universo em acelerada expansão e um alento para nós,

mesmo sendo editores de “não ficção”, segmento distante do gênero que essa

garotada consome.

É um ótimo sinal. No passado, muita gente chegava aos livros via gibis; hoje, a

porta de entrada é também ou principalmente o Youtube, as redes sociais, etc.

São caminhos diferentes que levam ao mesmo destino e nos encorajam a

apostar num mercado que o mundo dá como condenado. Nesse sentido,

somos incorrigivelmente otimistas. Estamos diante de um processo de

reinvenção da própria sociedade e o livro – comprovamos nestes dias de Bienal

– tem lugar assegurado no mundo que se descortina.

Enquanto houver gente disposta a aprender e a ensinar; a contar, a ouvir, a

compartilhar histórias reais ou não, sonhos e aventuras, os livros terão valor,

independentemente de formatos. Não importa se em papel, e-

book ou audiobook, a força do livro está muito mais no conteúdo, embora a

forma também seja sensacional. 

Temos apenas um ano no “ramo”, absolutamente nada levando-se em conta

que o mercado editorial soma quase 700 anos, mas o suficiente para termos a

certeza de que fazemos o que gostamos, o que sabemos ou julgamos saber. A

Bienal nos mostrou que há um longo caminho, muito a aprender e a evoluir. E

também que ações de censura como a do prefeito da cidade, com inacreditável

apoio da presidência do Tribunal de Justiça do Rio, não encontram eco e

devem ser sempre repelidas. 

É provável que a intenção subjacente do prefeito fosse a de pegar carona na

grandiosidade do evento. De fato, os números da Bienal são expressivos: algo

como 600 mil pessoas participaram do evento e compraram 4 milhões de

exemplares, o que, no entanto, pode dar uma falsa impressão de pujança. Nos

10 dias em que estivemos imersos no Riocentro não enxergamos as

dificuldades do mercado: queda nas vendas e fechamento de grandes livrarias,

sem que o digital tenha ainda capturado o contingente que deixou de comprar

livros.

Nesse sentido a Bienal nos pareceu um belo prefácio de um grande livro. O

desafio do segmento é trabalhar para que a celebração da leitura tenha

capítulos diários e não apenas a cada dois anos.