Era ainda o primeiro semestre de 2020, início da pandemia, quando um planeta inteiro se resguardava em casa, perplexo, sem entender muito o que acontecia. Neste momento, artistas de todo o mundo ocupavam janelas e terraços com sua arte, cantando, dançando e tocando instrumentos na busca de trazer alento e diminuir a solidão de cada um isolado em seu quadrado. Assim fez Soraya Ravenle, ao cantar para os moradores do seu edifício, o Edifício Ubirajara – nome que deu origem ao show que começou a ser gestado em plena incerteza, e que chega aos palcos com direção de Inez Vianna.

Ubirajara vem do idioma indígena Tupi, formado pela junção dos elementos “übürai”, que significa “lança” e ”yara”, que quer dizer “senhor” – “senhor da lança” ou “senhor da vara”.

Neste trabalho, que a própria Soraya reconhece como diferente de todos os que já fez, são difusos os limites entre corpo, voz e atuação – as três expressões existem absolutamente interligadas. Em uma fluidez cênica contínua, não vemos onde começa uma e termina a outra. Soraya Ravenle está fisicamente só no palco, mas em boa companhia, como ela mesma define.

Em cena, dialoga com artistas e amigos que contribuíram com as bases sonoras, formando uma costura colorida de sons. Suas presenças são ouvidas ao longo de todo o show: Edu Krieger no violão; Maria Clara Valle no violoncelo; Joana Queiroz no clarone; Pc Castilho e sua flauta; Diego Zangado no batuque; Julia Bernat e Stella Rabello no violão e vozes; Pedro Luis na faixa dançante tirada do Arco do Tempo (CD de Soraya com músicas de Paulo Cesar Pinheiro), além de cantos à capela.

“Ubirajara, uma cantoria” tem curta temporada – dias 5 e 6 de agosto – no Teatro da UFF (Rua Miguel de Frias 9, Icaraí – Niterói).