A exposição “Abismo”, individual do artista niteroiense Rodrigo Pedrosa, reúne sua produção mais recente de esculturas, ocupando o salão principal do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, de 9 de setembro a 26 de novembro de 2023. Com curadoria de Rafael Fortes Peixoto, a mostra apresenta cerca de 20 peças em diferentes escalas e materiais, além de três conjuntos escultóricos compostos por placas de cerâmica e de gesso.

A proposta da exposição é trazer ao público uma reflexão sobre os caminhos da sociedade contemporânea, que, sob o olhar poético do artista, está à iminência do caos. Em suas figuras humanas, contorcidas, desmembradas e desfiguradas, Pedrosa chama a atenção para a excessiva individualização como marca do abandono das características que nos integram como humanidade.

Além das obras que irão ocupar os salões internos, explorando o espaço a partir da sensação da solidão, a mostra também traz uma provocação pensada pelo artista para a paisagem turística do museu. Em pontos estratégicos da parte exterior do MAC, serão fixadas esculturas de figuras humanas a beira dos abismos que circundam o icônico prédio de Oscar Niemeyer, instigando tanto seus visitantes como as pessoas que transitam pelas cidades do Rio de Janeiro e de Niterói, por terra, céu ou mar.

Apesar de seu caráter denunciativo, a mostra “Abismo” traz uma mensagem de renovação a partir de uma tomada de consciência coletiva. Nas palavras do curador: “É como se nós, diante do abismo, da iminência do fim, tivéssemos duas opções: cair ou voar”.

“As esculturas de Rodrigo Pedrosa revelam: caminhamos para o abismo. A sociedade, banhada pela lama das desigualdades e das injustiças, perde cada vez mais o senso de comunidade. A individualidade torna-se necessária e a indiferença vira um remédio amargo de uso diário. A solidão ocupa os vazios, disfarçada entre selfies e lifestyles, nas promessas de corpos perfeitos, vidas perfeitas e momentos maravilhosos. O olhar, confuso e turvo, não enxerga no outro o próprio reflexo.

Como denúncia para um despertar de consciência, as peças de Pedrosa chamam a atenção para figuras humanas em condições extremas, retorcidas, submersas, emparedadas e fragmentadas. O corpo reflete quem somos no mundo, nossas dores, angústias, amores, alegrias e esperanças. Do corpo, parte a necessidade de buscar novos horizontes, de nos reconectar com nossa essência animal e espiritual e com nossa condição de seres que coexistem. Afinal, o que é ser humano?

O artista, como uma lente que amplia o que vê, vive e sente, expressa estas questões por meio de obras de grande carga dramática. Suas figuras, ao mesmo tempo que se relacionam com uma tradição da escultura, subvertem o uso de materiais como o gesso, a cerâmica e as resinas em benefício de um processo de experimentação que divide, agrupa, aglomera, isola e multiplica – paradoxos formais e poéticos.

Ao ocupar o salão central do MAC Niterói com estas obras, Rodrigo Pedrosa projeta de dentro para fora uma visão de esperança. A paisagem, como local da ação, nos leva a perceber a conexão entre o eu e o mundo, pela identificação pelas vias do afeto. E mostra que nós, diante desse abismo, à iminência da queda, podemos ainda voar.

Rafael Fortes Peixoto, curador