O universo feminino, as inquietações e as representações sociais das mulheres são temas presentes em “Confinadas”, nova exposição da Casa Fiat de Cultura, que fica em cartaz até 1º de outubro. A artista carioca Lígia Teixeira foi uma das escolhidas no 6º Programa de Seleção da Piccola Galleria. A mostra apresenta 32 pinturas em pequenos formatos produzidas no período de confinamento da pandemia e revelam mulheres solitárias, enclausuradas na maior parte das vezes em seus ambientes domésticos, sendo uma metáfora para se discutir o silenciamento e o apagamento do ser feminino ao longo dos séculos.

A temática é recorrente no trabalho de Lígia Teixeira, que destaca a presença feminina mesmo quando o olhar está voltado para questões mais sociais ou políticas. Em “Confinadas”, mulheres enclausuradas, solitárias e, em grande parte, em ambientes domésticos, aparecem em cenas inusitadas e provocativas, como em um banho na pia da cozinha, abraçada a um aspirador de pó ou observando uma panela em chamas.

Em um contexto social de isolamento, a artista encontrou na arte uma válvula de escape, como forma de sobrevivência psíquica. Para isso, usou os recursos que tinha disponíveis a mão, o que resultou em quadros de pequenas dimensões. “Não havia nenhuma perspectiva para além das janelas. Vivíamos um mundo reduzido”, reflete Lígia. Nas protagonistas de cada obra, ela encontra espaço, também, para explorar a sua própria vivência. “A exposição é uma viagem introspectiva. Ao mesmo tempo em que falo sobre o que muitas mulheres passavam naquele momento, eu também falo de mim”, analisa a artista.

O curador da mostra, Osvaldo Carvalho, destaca que Lígia Teixeira apresenta a forma e o conteúdo de maneira simples e objetiva, mas sem se deixar levar por fórmulas simplistas ou moralistas. “Ela enxerga nos fatos ordinários a mais preciosa contemplação.” Para ele, “Confinadas” é o “testemunho de um tempo de silenciamento e apagamento das mulheres, que não foi menos implacável durante ou depois da pandemia”.

A mostra “Confinadas” é uma realização da Casa Fiat de Cultura e do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, tem o patrocínio da Fiat e do Banco Safra, e copatrocínio do Banco Fidis e da Brose do Brasil. O evento tem apoio institucional do Circuito Liberdade, além do apoio do Governo de Minas e do Programa Amigos da Casa.

Sobre as obras
Cores fortes, como vermelho, azul, laranja e rosa, são aplicadas em ambientes monótonos e sufocantes. As 32 obras de “Confinadas” foram realizadas por Lígia durante a pandemia, que inicia o processo a partir de referências encontradas na internet. As imagens iniciais se transformam em trabalhos com um grande sentimento de urgência e busca pelo equilíbrio de composições. “Transparece certa angústia ao observarmos linhas de esboço perdidas ou ignoradas ou simplesmente absorvidas ao acaso”, aponta o curador Osvaldo Carvalho.

Para ele, as cores aplicadas nas superfícies pictóricas são o principal destaque. “Nelas encontramos seu mais caloroso embate, ora burlando sistemas conhecidos de composição, ora perfeitamente ajustada às demandas de matiz, de tonalidade, de policromia”, explica Osvaldo. Lígia pretende que as obras provoquem certo estranhamento e que os elementos desconexos presentes nas pinturas “devem gerar questionamentos no espectador”.

Sobre a artista
Lígia Teixeira é artista visual. Nasceu no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Possui formação em arquitetura na UFRJ e em diversos cursos de arte, como no Museu de Arte Moderna (MAM) e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage no Rio de Janeiro. Ela realizou exposições individuais no Paço Imperial, Museu de Belas Artes, Centro Cultural da Justiça Federal, Centro Cultural Correios, Galeria Cândido Mendes, entre outras, bem como diversas coletivas, entre as quais no Museu Murilo Mendes e na Galeria Hiato em Juiz de Fora (MG), Museu Marco, em Campo Grande (MS), Trio Bienal na Cidade das Artes (RJ), Centro Cultural da UFF, em Niterói (RJ) e diversos salões de arte, como Salão de Arte Pará, Salão Paranaense, Salão Nacional, entre outros.

Sua investigação tem como foco o universo feminino e suas representações sociais e no imaginário coletivo. Criando um diálogo entre as questões do inconsciente e da vida urbana nos dias de hoje, o corpo, o desejo, o erotismo, a sexualidade são temas que perpassam sua obra, assim como as diversas representações que envolvem a natureza feminina e os seus lugares de fala no mundo contemporâneo

A Piccola Galleria da Casa Fiat de Cultura fica na Praça da Liberdade 10, Funcionários, Belo Horizonte. Visitação presencial de terça à sexta-feira, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h (exceto segundas-feiras). Tour virtual no site: www.casafiatdecultura.com.br.