Artistas e curadores dos cursos Imersões Poéticas e Imersões Curatoriais da Escola Sem Sítio promovem neste sábado, dia 26, às 15h, o vernissage da coletiva “A Utopia do Não”, no Paço Imperial, no Centro.

“A utopia do não” resulta do trabalho realizado em dois cursos concomitantes voltados para a formação de artistas e curadores. Do curso Imersões Poéticas, treze artistas foram convidados a participar da exposição, enquanto no curso Imersões Curatoriais, sete alunos refletiram sobre a prática curatorial construindo um projeto de exposição.

Os participantes dos Programas foram orientados por Cadu, Cristina de Pádula, Efrain Almeida, Fernando Leite, Ivair Reinaldim, Leila Scaf, Marcelo Campos e Tania Queiroz.

Integram a coletiva os artistas Adriana Cangalaya, Anna Corina, Bianca Madruga, Caeso, Dulce Lysyj, Fernanda Mafra, João Paulo Racy, Maia Bueloni, Maria Vitória Marini, Mariana Paraizo, Mariana Süssekind, Patricia Figueiredo e Yago Toscano.

São curadores da mostra Ana Rosa, Anderson Oliveira, Andrea Almeida, Fernanda Carvalho, Gustavo Barreto, Hélio Bonomo e Vilmar Madruga.

“Esta exposição resulta do processo coletivo de mergulho, reflexão e produção de treze artistas e oito curadores no âmbito dos cursos oferecidos pela Escola Sem Sítio, caracterizando-se como uma espécie de cartografia, constituída por gestos, materialidades e imagens capazes de proporcionar múltiplas reflexões e visões sobre o agora. Vemos aqui obras que versam sobre o território, as emoções, a natureza, o tempo, a violência, o segredo, o acúmulo, a ostentação, o bloqueio, a dor, o objeto, o consumo, o gesto, o subterrâneo, a inocência perdida.

Enquanto algumas dessas proposições focam na coletividade e nas questões sociais, no autoritarismo e no impedimento – olham “para fora” -, outras, por sua vez, voltam-se para assuntos internos, para afetos mal resolvidos, para a intimidade do ego – olham “para dentro”. Essa aparente dicotomia, no entanto, dilui-se ao constatarmos que as obras aqui apresentadas transbordam entre si as várias possibilidades deste “não” que dá título à mostra.

Quando convocados a participar dessa experiência coletiva, andamos sobre o movediço terreno ambivalente da afirmação e da negação. Ou ainda: da negatividade como potência. É o que chamamos aqui de uma “utopia do não”, vinculada ao nosso modo (inevitavelmente tenso, desconfortável) de habitar o presente. Sabemos, de outro modo, que a arte lida com o que Adorno denominou “dialética negativa”, ou seja, enfrenta um mundo na contramão, à contrapelo. O não”, aqui proposto, torna-se desejante, espaço de silêncio ativo e de reflexão constante.

Ao dizermos que esta experiência se abre a uma “utopia do não”, referimo-nos a uma dupla negação, a dois nãos que se opõem, já que u-topia significa etimologicamente “não-lugar” (ou = não; topos = lugar). Habitar este não-lugar da utopia é, portanto, um gesto afirmativo. Mas o que se afirma? Talvez o presente, a força do agora, uma força intangível e que não pode se apresentar senão como um vago ruído, vestígio, silêncio, inter-dito, algo que não somos capazes de definir e descrever completamente.”

VERBETE 1 – Olhando “para fora”: POLÍTICA

Os trabalhos aqui expostos nos fornecem pistas de uma provocação ética/estética agulhada pelo social, pelo grito contra a restrição das liberdades e pelo desejo de uma reconquista de espaço.

Vivemos um momento político que parece impulsionado pelo não. Ele assume diferentes tonalidades, intensidades e direções dependendo do lugar com o qual o sujeito se identifica, se relaciona e se encontra no mundo.

Para além da memória, algumas obras vão operar de maneira mais incisiva. Dando ênfase em questões que nos atravessam e que nos são impostas em nosso percurso, como a relação de impedimento/deslocamento pela cidade, a durabilidade artificial do consumo, a violência quer institucional, histórica que oculta silêncios e vazios camuflados. A arte, trazida à tona mediante processo de transgressão, grita pare.

VERBETE 2 – Olhando “para dentro”: MEMÓRIA

Outro aspecto relevante a ser destacado na mostra é o corpo como memória, que comparece em algumas obras, ora ocultando, ora revelando uma espécie de dor invisível e amordaçada. Os objetos, negando-se a explicitar um significado único e definitivo, parecem tecidos, pintados ou escritos no limite entre o visível e o invisível. E é nessa fronteira que se transformam, se reinventam e ressignificam.

Essas investigações surgem através de diferentes disparos, confrontos e incômodos presentes em nossa memória, por exemplo. Sejam os que remetem a uma infância onde a ostentação se torna sinônimo de contenção, sejam os que vão tornar visíveis as relações de dor, afeto e alteridade presentes no tecido social, por meio de elos construídos e desconstruídos ao longo do tempo. Tempo não linear, de lembranças fragmentadas captadas do cotidiano, contadas de maneiras a devolver o olhar para os públicos.

Propostas que afirmam lembranças do passado para negar desigualdades no presente. Negação do toque, das relações de apropriação e das situações de invisibilidades.

A exposição poderá ser visitada até 23 de fevereiro. O Paço Imperial fica na Praça XV de Novembro 48, no Centro.