O super artista, crítico e curador carioca Osvaldo Carvalho abre na próxima terça-feira, dia 07, a exposição “Balada”, na Casa Fiat de Cultura, sua primeira individual em Belo Horizonte. A mostra poderá ser visitada, presencialmente ou online, até 30 de janeiro de 2022. O evento de abertura terá um bate-papo ao vivo com o artista. O participação é gratuita e as inscrições devem ser feitas pelo Sympla.

“Na série Balada, iniciada em 2019, Osvaldo Carvalho hibridiza a pintura com resquícios de suas práticas artísticas no espaço público, pensada junto aos processos de inscrição sobre a cidade, agora materializadas em pinturas de paisagens urbanas. Nestas diminutas pinturas, emergem ecos de distintos grupos sociais que disputam espaços de comunicação, vistas transpassadas pelas urgências em recortes sobrepujados pela invocação à observação de paisagem, no intento de desvelar múltiplas camadas de um complexo amálgama territorial.

A Balística estuda o movimento dos projéteis, e tem na Balística Terminal, uma subdivisão, enfocada no comportamento do projétil no momento em que ele atinge e penetra o alvo. Classificando estes entre Alvos Duros e Alvos Moles, o primeiro, como o nome indica, superfícies resistentes, e o segundo denominando animais e seres humanos. Alvos Moles deslocam-se pela cidade, sob o risco de ir ao encontro de projéteis, que rompem o corpo vivo. Logo, as cidades são um palco onde trajetórias, tanto dos corpos quanto dos projéteis, findam-se.

Osvaldo Carvalho adiciona a materialidade das balas perdidas, que agora encontradas, são exibidas. Cada uma emula uma pequena vitrine, resguardando joias forjadas a partir de fragmentos de tecnologias de caça e de morte. Estilhaços que desviaram de seu télos, e que irromperam na vida do ateliê, logo sendo redirecionados para a galeria em exposição. O trabalho vai crescendo à medida que outros projéteis e memórias vão de encontro a Osvaldo, aumentando exponencialmente suas possibilidades de criação. Como uma série contínua, que vem sendo desenvolvida ao longo dos últimos três anos, e conta hoje com mais de 50 pequenos arranjos, “pepitas” que não encontraram alvos moles.

Na reunião destas pinturas, vemos a interdição do uso dos espaços, convivendo ao lado de promessas esquecidas, em que um cristianismo opaco se mescla com sabedorias oraculares, polarizações e ficções que ordenam nosso presente. A efusividade da propaganda ignora a arquitetura apropriada sob a qual se interpõe, duas camadas de códigos distintos, cadeias produtivas globais e espaços urbanos.

Mensagens que beiram o arruinamento, acúmulos, que se plasmam na parede, e vão se acotovelando, resistindo às intempéries, com sua mensagem, borrada, sobreposta, opaca, mas ainda assim presentes.”

Alvos moles que bailam na noite sem fim
Aldones Nino, curador