O artista plástico Rodrigo Pedrosa abre sua exposição “Humanidades” nesta quarta-feira, dia 12, às 19h, no Centro Cultural dos Correios, no Rio. A mostra tem curadoria de Osvaldo Carvalho e poderá ser visitada até 23 de janeiro.

“Rodrigo Pedrosa é um engenhoso (re)fazedor de si mesmo. Suas esculturas, as quais em geral constrói a partir de sua compleição, dão a medida de como o artista está voltado para uma introspecção que expõe e perturba as expectativas de um mundo convencional, em que se espera a perfeita complacência diante das perversidades que circulam nossas existências em dias sombrios que vivemos.

Muitos são os que esperam pela ordem, poucos os que a erguem dos escombros. A vitalidade de suas peças, em doses brutas de matéria, apresenta o Homem carente de aparas, de refinamentos, e pré-disposto ao abismo.

A incerteza de quem se é, de seguir um rumo, que caminho tomar, vem de longa análise na vida do artista que se descobriu liberto de seu bloco de argila recentemente quando deu azo às suas criações e partiu em busca de um repertório que reforça sua intensidade marcadamente corporal, movimentos firmes e precisos que impõem ao espectador um olhar pretérito ao longo da História da Arte, a vislumbrar os corpos que Michelangelo retirava dos blocos de mármore, no conjunto grandioso de Os Escravos, sem, contudo, libertá-los por completo, ou na anatomia barroca de Aleijadinho, aliando dramaticidade e eloquência a gestos que transbordam angústia, assim como vemos em grupos escultóricos de George Segal feitos em gesso, notadamente sobre o Holocausto.

Pedrosa nos compraz com as múltiplas facetas de suas habilidades, seja no campo escultórico, seja na pintura. Aliás, suas pinturas são recortes de poses de suas esculturas, uma pequena fresta por onde deixa passar uma nesga de luz que comprime, sobre a superfície alva, uma delicada sombra colorida.

Desenvolvendo uma brincadeira com a teoria Junguiana sobre a persona, nos apresenta uma realidade que verificamos ser não mais que uma variante daquela, e que para todos os lados que olhamos vemos o rebatimento de um torso, ombros e braços oblíquos, inclinações premeditadas do indivíduo que se recolhe como que a buscar o silêncio e a proteção em seu primórdio fetal.

Do mesmo modo que um epigrama de Wilde, os trabalhos de Pedrosa contemplam uma crítica mordaz, curta e grossa, às humanidades cujas teorias, metodologias e práticas parecem não mais lhe fundamentar os processos de produção artística, em que seu lado satírico ganha então o vigor de uma pedra carregada morro acima, que insistentemente rola de volta.

Seria razoável insistir? Como pontuaria Wilde mais uma vez, “sempre que algo desagradável tem que ser dito, deve-se ser muito sincero”. Encontramos no conjunto das obras uma busca do artista pela melhor maneira de dizer ao mundo aquilo que lhe desagrada, aquilo que com talento inestimável torna claro a todos: precisamos resgatar nossas humanidades, o quanto antes, antes que seja cada um por si em definitivo, nossas perspectivas estão se fechando cada vez mais próximas no horizonte. A inércia será nosso último passo para o precipício.”

Osvaldo Carvalho

O Centro Cultural dos Correios fica na Rua da Candelária s/n, no Centro.

Fotos: divulgação