Trata-se de um livro sobre o humano. Quem lê as páginas escritas pela médica infectologista Marcia Rachid entende que o sacerdócio ou qualquer outro bom nome, está presente na maneira que ela imprime à sua rotina de trabalho.

Depois de quase 40 anos numa incansável luta contra o HIV, Márcia resolveu pegar suas anotações e remexer sua memória e trazer vários casos onde relata a vida desses pacientes e sua interação, não só como médica, mas também como amiga deles. Márcia interage, mimetiza seu relacionamento com alguns e apoia a todos. Um exemplo de profissional, que além do conhecimento, vê o outro como um igual.

O livro é muitíssimo bem editado na sequência das histórias. Impossível não fazer um exercício mental para tentar descobrir a identidade de seus pacientes, sempre muito bem guardada. Com a leitura, inevitavelmente vem o transporte para aquele tempo e histórias, como se fôssemos a terceira pessoa envolvida, uma testemunha invisível a mais, naqueles sets que ela constrói em nossas mentes.

Foi assim quando ela narrou a criação do grupo Pela Vidda, resultado de sua união com Herbert Daniel. O livro foi concluído antes da pandemia, mas em muitos momentos é impossível não fazer relações com este momento único de nossas vidas.

O leitor não verá pieguice ou pena por parte dela a seus doentes. Ela os olha nos olhos deles e seguem na luta diária por uma solução que sirva a todos. Mesmo que seja apenas mais um dia de vida.

Não é um livro pesado. Mas cheio de emoção. Quem gosta de matérias de comportamento, por exemplo, encontra material farto, por vezes até com alguma graça ou diversão.

Na apresentação do livro, o psicanalista Benilton Bezerra Jr. Resume a incansável luta de Márcia: “As histórias transmitem a convicção de que a solidariedade, a mobilização e o conhecimento médico compromissado com a vida podem sempre transformar o que parece uma sentença definitiva numa oportunidade de recomeço”.

Uma ótima oportunidade para ver o ser humano cumprindo seu verdadeiro papel.