“Triagem” é uma antropogonia, criação de figuras com algumas características humanas e histórias imaginárias, tendo o retrato e a cabeça como categorias da imagem. O que interessa à artista é o debate atual em torno de grupamentos humanos, envolvendo basicamente quatro vetores: movimentos identitários, multiculturalismo, migrações e xenofobia, dados em termos abstratos, refutando quaisquer sintomas de uma politicidade não-artística.

Com esta proposta, Katia Politzer apresenta sua individual, no Centro Cultural Correios Rio até 3 de setembro. Ocupando as Galerias A e I no 3º andar, a exposição consiste em instalações (Sitiação, Captura, Motinada e Rasto e Banquete dos Excluídos) e esculturas (Saga, Fortuna e Matroca), inéditas, realizadas a partir de 2020. Materialmente híbridas (cerâmica, vidro, ferro, tecido, cimento, silicone e poliestireno), estas variam do pequeno ao grande formato, com peças moldadas em escala humana, utilizando seu próprio corpo ou de modelos.

As cabeças, rostos, máscaras e transfigurações de corpos às vezes perdem a figuração humana arquétipa e se tornam disformes ou desconstruídos, podendo revelar processos psíquicos internos ou talvez anunciando o pós-humano do fim do Antropoceno.

“Triagem é o processo de separação que determina prioridades. Desde o século X, a sociedade contemporânea vem sofrendo grandes mudanças na sua estrutura, fragmentando paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, idade e nacionalidade, levando a crises e à violência gerada pela intolerância à diversidade. E também a crises de identidade, embora a escala do mundo não seja mais a do sujeito individual, mas do coletivo.

“Reconheço que, como mulher, branca, idosa, privilegiada, muitas vezes não tenho lugar de fala. Mas, sem tirar o protagonismo de quem tem, me posiciono num mundo contemporâneo em constante mutação, com visão crítica contra qualquer tipo de injustiça e segregação social”, diz Katia Politzer.

“Que mudanças estão acontecendo em quem procura por si? Como incluir na comunidade humana diferentes rostos, corpos, desejos e histórias singulares, muitas vezes condenados à invisibilidade, à inexistência estética e política?”, questiona a artista.