Artista visual, poeta e produtora cultural, Leticia Tandeta Tartarotti ocupa a Galeria Reserva Cultural com a mostra “Poderia chamar de amor ¿”. O projeto, iniciado em 2018, reúne mais de 800 imagens capturadas pelo celular e coladas diretamente na parede, além de vídeos da artista. Imagens de trajetos, filmes e cenas cotidianas compõem a obra.

Para a curadora Bianca Madruga, essa proliferação vai se impregnando de uma descoberta muito rara a cerca da duração e do litoral das coisas. A imagem parada se põe em movimento e a imagem em movimento é capturada em sua imobilidade, operando assim um quase cinema ou um cinema às avessas. A exposição permanece no Reserva Cultural diariamente das 12h às 22h até o dia 29 de agosto.

“O trabalho de Leticia Tandeta Tartarotti tem algo de perseguição, uma busca de um tempo que, de algum modo, já sempre escapou, ou ainda que se põe à frente. São centenas e centenas de imagens, feitas pelo dispositivo do celular. Imagens de trajetos, filmes, cenas cotidianas feitas e repetidas à exaustão. A imagem parada se põe em movimento e a imagem em movimento é capturada em sua imobilidade, operando assim em um quase cinema ou um cinema às avessas.

O que se registra é da ordem do acontecimento mínimo, íntimo, das pequenas transformações que se dão na sobreposição dos instantes. Uma proliferação de cenas e possibilidades infinitas de montagem vão se contaminando, se impregnando de uma descoberta muito rara acerca da duração e do litoral entre as coisas. Enquanto isso, o ouvido esquerdo escuta: “Oh, it’s a long, long while from May to December/ But the days grow short when you reach September”.

Se girar o corpo, na nuca se ouve: “Forget about the bad times/Remember all the good times/Hold your head up high/ And breakaway”. Todas as imagens, ruídos, canções parecem vir dizer: “Não temos tempo a perder, meu amor”. E talvez seja isso mesmo, não temos. O improvável desses encontros, para além desse exercício de montagem frenética – tal qual um resto de memória –, convoca também ao exercício da desorientação amorosa. As cenas da vida se acham nesse afeto e tem sua força nisso que poderíamos compreender como um discurso amoroso, ou uma carta de amor.

Alain Badiou já nos lembrou: o amor é a verdadeira revolução, uma contraexperiência e sua declaração marca a transição do acaso ao destino, à necessidade. Nessa carta de amor, que Tandeta endereça a nós e às coisas ao mesmo tempo, lemos a pergunta: “Poderia chamar de amor ¿”. E o sim parece ser a única resposta.”

Bianca Madruga, curadora

Leticia Tandeta Tartarotti (1961) nasceu, vive e trabalha no Rio de Janeiro. Artista plástica, poeta e produtora cultural, é uma das co-gestoras do espaço autônomo de arte A Mesa, iniciado no Morro da Conceição e atualmente com programação itinerante. Em outubro de 2014 lançou seu primeiro livro de poesia, “Tirem meu nome de mim”, pela Editora 7 Letras. Frequentou oficinas na EAV do Parque Lage com Daniel Senise e Beatriz Milhazes na década de 80, e com David Cury de 2005 a 2009. Criou e coordenou de 2009 a 2012 a plataforma de artes FaceArte, veiculada pelo Facebook.

Leticia também realizou exposições individuais na Casa de Cultura Laura Alvim em 1992, e em A Mesa, com curadoria de Pollyana Quintella, em 2018. Em 1989, foi uma das selecionadas da exposição Novos Novos, do Centro Empresarial Rio. Participou de diversas exposições coletivas, como Experiência 9+1, no CCJF (2017); Somos todos Clarice, na Galeria do Lago do Museu da República (2016); Cultivar o deserto como um pomar às avessas, na Galeria de Artes da UFF (2016); e Pavilhão, na Casa França Brasil (2015) entre outras.

A Galeria Reserva Cultural fica na Av. Visconde do Rio Branco 880, Niterói.