“O Pequeno Grande Mundo de Flavio Papi” começou a ser construído muito cedo, ainda na infância, quando já produzia maquetes e miniesculturas. Aos seis anos de idade, ele começou a desenhar com Augusto Rodrigues, na “Escolinha de Artes do Brasil”, e logo em seguida com Ivan Serpa, no MAM, dos 7 aos 12 anos. Seu know-how em arquitetura, porque além de artista plástico e maquetista é também arquiteto, favoreceu bastante seus projetos em menor escala. Hoje, Flavio Papi é considerado o maior maquetista brasileiro, elencando uma extensa e respeitável lista de trabalhos para publicidade, cinema e televisão (TV Globo, a extinta Manchete e Record).

A exposição faz uma retrospectiva sobre sua trajetória de mais de 60 anos, reunindo desenhos, pinturas, esculturas e maquetes, sob curadoria de Dinah Guimarães, no Centro Cultural Correios Rio.

Entre as maquetes mais curiosas estão a do “Teatro” da novela Mandala (TV Globo), a do “Banheiro”, criada para o clipe do grupo “Paralamas do Sucesso”, dirigido por Andrucha Wadington e vencedor na MTV Awards Brasil, em 1996. São destaques também na exposição a maquete oficial da Rio 2016 e a recente série “Floresta” (bastante oportuna no momento atual de devastação da Amazônia), criada para uma peça publicitária sobre o Dia do Meio Ambiente.

Além de antigas mini esculturas, também fazem parte desta mostra esculturas recentes com a temática ecológica, a destruição e o renascimento do planeta, assim como temas ligados à violência humana; o trabalho para o longa “Outras estórias”, de Pedro Bial, e “Lili Carabina”, do cineasta Lui Farias. Maquetes usadas em clipes para bandas de rock e shows musicais para o programa “Fantástico” com artistas como Djavan, Martinho da Vila, Zizi Possi, Angela Maria, entre outras estrelas e para o programa “Trapalhões” também estarão expostas.

“Será a arte capaz de transportar imaginariamente o espectador para um universo paralelo? A obra de Flávio Papi se insere, inegavelmente, em uma criatividade transcendental, que logra decodificar informações novas ao introduzir elementos estranhos (‘ruídos’) em dados cotidianos. É aqui possível perceber uma distinção capital entre ‘arte formalizada’ (arte criada pelos artistas) e ‘arte em estado bruto’ (capacidade humana de fruir esteticamente objetos ou fenômenos naturais como crepúsculos)?

A atual retrospectiva revela artefatos ecléticos, que mesclam valores artesanais da arte do passado com uma ruptura estética radical. Peças artísticas criadas a partir de maquetes com técnica mista (madeira, mdf, acrílico, plastique, papel, arame, pvc, plástico, poliuretano, resina, gesso, pintura acrílica ou automotiva) simbolizam obras intuitivas, espontâneas, sem projeto prévio. Fugindo da premissa ingênua de obras cuja facilidade se disfarça sob a ideia do difícil, a exposição revela desenhos, pinturas, esculturas e maquetes produzidos desde a infância do artista até a atualidade, em mais de 60 anos de trabalho ininterrupto. […]

Derivando de uma família de artistas plásticos como Luiz Alphonsus e Domingos Guimaraens, sua obra foi influenciada pela poesia de Alphonsus de Guimaraens Filho, Afonso Henriques Neto e Augusto de Guimaraens Cavalcanti, devendo sua estética de connoisseurship à exímia modista Sônia Papi, sua mãe, ao bom gosto e escritos da tia Hymirene Papi de Guimaraens, às esculturas e poemas do tio Luiz Papi e ao apoio imprescindível do irmão Pedro Papi. Trata-se de ter olho e gosto, pois o bom gosto é um juiz intemporal perante o qual as obras comparecem, à espera de julgamento…”

Dinah Guimaraens, curadora

“O Pequeno Grande Mundo de Flavio Papi” pode ser visitado até 2 de abril. O Centro Cultural Correios Rio fica na Rua Visconde de Itaboraí 20, no Centro. A entrada é gratuita.