Entre os dias 30 de novembro e 17 de fevereiro, o Paço Imperial recebe a exposição “Soluções alternativas para um futuro incerto”, um conjunto de quatro instalações inéditas do escultor colombiano Jorge Rodríguez-Aguilar, em que se colocam relações de imantação do espaço e do espectador. A exposição tem curadoria do crítico de arte Marcelo Campos e ocupará os 275m² da sala Terreiro do Paço, localizada no térreo do Paço Imperial, no Centro do Rio de Janeiro.

As instalações apresentam situações de ritualização de elementos da natureza, como chifres, plantas, sal grosso, em que o trabalho com madeiras e metais apropriados e reutilizados se transmutam em esculturas. E, de outro modo, estamos diante de elementos do cotidiano, como ralos, que viram chocalhos, plantas de plástico que se conectam com plantas vivas, que vão somar na construção dessa narrativa. A circulação entre as obras nos coloca em movimento como um corpo em processo ritual.

O artista lida com imagens e formas que trazem tanto questões das práticas ritualísticas latino-americanas, misturando saberes indígenas, africanos e europeus, quanto a própria condição de apropriação colonial que marcou a exploração da natureza por práticas extrativistas. O resultado de sua pesquisa estética traz a sintonia do Brasil e da Colômbia com a condição de sua “africanização latina”, apresenta-se como um outro modo de conectar fronteiras que, muitas vezes, nos afastaram pela diferença de colonizações.

O título “Soluções alternativas para um futuro incerto” traz uma provocação para o diálogo e a interlocução com o público. Reinvestindo a arte do seu poder simbólico e de suas relações de imantação do espaço e do espectador, o artista propõe quatro núcleos de instalações, com dimensões e formatos variáveis, em que as esculturas e objetos são suspensos e podem ser percorridas e algumas podem ser tocadas pelo espectador. “Nesta pesquisa, procuro uma ‘bricolagem’ de elementos que de uma forma ou de outra simbolizem, descrevam e transmitam a força da natureza por meio de uma linguagem poética e contemporânea da arte”, revela Jorge Rodríguez-Aguilar.

As instalações estão divididas em quatro núcleos: o das Plantas Protetoras, que traz um conjunto de plantas de plástico, como “Espada de São Jorge”, “Babosa”, “Arruda”, “Comigo ninguém pode” entre outras, consideradas na visão popular como protetoras contra energias negativas e mau olhado. São transformadas em “amuletos suspensos” que se relacionam no espaço com um núcleo das mesmas plantas, mas vivas e organizadas num círculo central no chão.

O núcleo das Árvores Mutantes traz um conjunto de 11 “árvores mutantes” de diversos tamanhos. Estas esculturas surgem a partir da descoberta do artista do corte em 11 pedaços de uma árvore de origem amazônica chamada Pau Mulato, de aproximadamente 15 metros de altura. Os galhos da árvore original se transformam em uma espécie de forquilha que se acopla na copa das novas árvores como estilingues em alerta a sua defesa. As árvores mutantes são suspensas por cabos de aço e flutuam de cabeça para baixo se espelhando, cada uma com uma muda viva, ou mais, de uma mesma espécie (Pau Mulato) posicionadas verticalmente no chão.

Já o núcleo “Penduricalhos” é formado por nove conjuntos de ganchos metálicos que carregam diversos elementos criados pelo artista como “amuletos”, visuais, táteis e também sonoros que alertam e pedem proteção contra o desmatamento das florestas e seus efeitos devastadores. “Cochos”, por fim, propõe uma releitura de um conjunto de cinco a sete cochos de madeira para alimentar o gado que são suspensos, preenchidos, alguns com sal grosso e outros com arroz cru. Dois elementos utilizados em diversas culturas para afastar as energias negativas e maus espíritos.

A exposição será acompanhada por um Projeto Educativo sob coordenação da socióloga e educadora Renata Bernardes Proença, produtora executiva da exposição, e tem por objetivo dinamizar o encontro e a interlocução do público com a exposição e os processos da arte de Rodríguez-Aguilar. Para isso, um carrinho desenhado pelo artista, cheio de curiosidades, fará a mediação com o público, por meio de encontros e propostas de “oficinas criativas”. Entre suas diversas funções, o carrinho também fará a ligação entre a exposição e o público que circula na Praça XV. Vale lembrar que a arquitetura colonial do Paço Imperial e o fato da exposição ser montada num espaço térreo se beneficiam dessa característica de ligação direta da construção com a calçada e seu entorno.