O Espace Frans Krajcberg, em Paris, inaugura a exposição “Obsession!”, de Yann Arthus-Bertrand, em 8 de setembro, às 18h30. A mostra poderá ser visitada até 23 de novembro. A individual apresenta uma série de 12 fotografias espetaculares do Lago Magadi, no Quênia, na Província do Vale do Rift. Esse rasgo na crosta terrestre, que ocorreu há cerca de 30 milhões de anos, se estende por quase 7 mil km no leste da África. Rodeado por altos planaltos vulcânicos, este vasto vale de afundamentos, uma sucessão de depressões (rift valleys), que vai do Mar Vermelho a Moçambique, abriga uma série de grandes lagos (Turkana, Kivu, Tanganyika, Malawi…) e de pequenos lagos, em que o Lago Magadi é o mais meridional.

Este lago, alimentado pela água da chuva que escorre das encostas vulcânicas próximas e pelas águas termais salinas, contém alto teor de sal. Em alguns lugares, sua superfície é marmoreada com licks, depósitos salinos cristalizados misturados com água salobra.

Ao fotografar o Lago Magadi, Yann Arthus-Bertrand põe seu olhar a serviço de um lugar que não é propriamente ameaçado, mas admite: “Fiquei fascinado pela beleza gráfica deste lugar, pelos tons surpreendentes das formações cristalinas e pela vida que abriga uma infinidade de microcosmos.”

Como testemunhou Françoise Jacquot, diretor de fotografia de Arthus-Bertrand, “Yann esteve lá uma dúzia de vezes, pois seu fascínio por este lugar o obcecava. Repetidamente, ele cruzou este lago em constante mudança e trouxe de volta imagens de um mundo surpreendente e fascinante. Eu nunca estive lá, mas eu o conheço como ninguém. Basta me mergulhar nas imagens de Yann e sua necessidade obsessiva de voltar a elas, e minha mente viaja, sonha, desse mundo revelado que capta sempre com tanto entusiasmo e admiração”.

É o que coloca o trabalho de Yann Arthus-Bertrand em linha direta com Frans Krajcberg: “somos parte da mesma família”. Deslumbrado como ele pela beleza da natureza ameaçada, sua obra fotográfica e cinematográfica amplia sua fragilidade e diversidade. Ambos são convencidos da urgência de mudar nossa visão de mundo.

Eles se conheceram no Fórum de Davos e se reencontram na grande exposição “Dialogues avec la Nature”, organizada em Bagatelle, em Paris, em 2005, como parte do Ano do Brasil na França. Primeira grande retrospectiva sobre seu trabalho e seu compromisso, Frans Krajcberg escolhe Bagatelle para lançar o “Cri pour la planète”. Desde então, o fotógrafo e o artista brasileiro tiveram a oportunidade de se trocar em diversas ocasiões, e Arthus-Bertrand fez inúmeras exposições e conferências no Brasil.

O fotógrafo francês enfatiza: “É claro que a fotografia é uma ferramenta excepcional para testemunhar. Mas há poucos artistas verdadeiramente comprometidos. Frans Krajcberg foi um deles! E o único a fazê isso com as mãos. Foi por meio de suas esculturas que ele expressou sua revolta…”.

Com “Obsession!” Yann Arthus-Bertrand também atua plenamente como um “artista comprometido” a serviço do Planeta.

Nascido em Paris em 1946, Yann Arthus-Bertrand sempre foi apaixonado pelo mundo animal e pelos espaços naturais, cujas muitas facetas capta com sua câmera. Em 1992, embarcou em um vasto projeto para testemunhar a beleza do mundo e sobrevoou os continentes. “La Terre vue du ciel”, sua obra publicada em 1999, foi traduzida para 27 idiomas e vendeu mais de 4 milhões de exemplares.

A última edição, com texto e imagens atualizados, foi lançada em outubro de 2021. No ano de 2000, não encontrando local para expor suas fotografias, instalou-as nas grades dos Jardins de Luxemburgo, em Paris. Suas imagens dariam a volta ao mundo exibidas ao ar livre.

Em 2005, ele criou a Fundação GoodPlanet, no Bois de Boulogne, em Paris. Reconhecida como de utilidade pública, seu objetivo é colocar a ecologia e o humanismo no centro das consciências e despertar o desejo de agir concretamente pela Terra e seus habitantes. Esse compromisso lhe rendeu o título de “Embaixador da Boa Vontade” do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em 2009. Em 2017, abriu a fundação ao público e ofereceu um espaço gratuito de experimentação para acolher trabalhos engajados, encontros e momentos de compartilhamento em torno de uma ecologia generosa.

Ele decidiu então se colocar atrás das câmeras de vídeo e passou a fazer documentários. Em 2009, lançou seu primeiro filme, “Home”. Transmitido gratuitamente e simultaneamente no youtube e em 120 canais de televisão em todo o mundo, estima-se que “Home” tenha sido visto por quase 600 milhões de pessoas. Em 2011, Yann Arthus-Bertrand e Michael Pitiot exploram a vida no oceano desde sua origem até os dias atuais com “Planète Océan”.

Mas Yann Arthus-Bertrand também deseja questionar os vínculos forjados entre o planeta e os humanos que o habitam. Em “Human”, lançado em 2015, mais de 2 mil pessoas, entrevistadas e filmadas em 60 países por mais de 2 anos, nos olham nos olhos e nos dão testemunhos autênticos e profundos. Em 2020, ele co-dirige “Woman”, com Anastasia Mikova, em que descreve um retrato sensível de mais de mil mulheres em todo o mundo.

Seu último documentário, “Legacy, notre héritage”, lançado no início de 2021, co-escrito com Franck Courchamps, foi feito a partir de imagens de arquivo. Dez anos depois de “Home”, este é um poderoso testemunho da degradação do mundo ao nosso redor em menos de uma geração.

No mesmo ano, o artista adquire 30 ha de pastagens em Yvelines e lança o projeto “Vallée de la Millière”, uma reserva integral de biodiversidade. Transformar este espaço em um lugar de renaturalização (Rewild) significa permitir que espécies vivas recolonizem espontaneamente seu ambiente destruído pela atividade humana. Este é o primeiro projeto francês reconhecido pelo programa das Nações Unidas para a restauração de ecossistemas.

Em 2022, ele lança a produção de três filmes: “Vivant sur la biodiversité” na França (que será transmitido pela France Télévisions); “France, une histoire d’amour”, em que embarca em uma nova jornada, desta vez com os pés no chão, pelas estradas da França para conhecer franceses “comprometidos”; e finalmente, “Ni d’ici ni d’ailleurs”, uma história de migrantes, que depois de “Human et Woman”, terceira parte desta trilogia, olha para aqueles que são obrigados a deixarem seus locais de origem.

A exposição é gratuita e aberta a todos os públicos (doação sugerida de € 5). O Espace Frans Krajcberg fica no Chemin du Montparnasse, 21 avenue du Maine, 75015, Paris.