Tendo como mote o bicentenário de nascimento de D. Teresa Cristina (1822-2022), a exposição “Cores da Paisagem – Nápoles-Rio no olhar de artistas italianos do século XIX” será aberta para visitação nesta quarta-feira, dia 23, no Paço Imperial. A iniciativa é do Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro. A mostra inédita – e sem itinerância prevista – pretende apresentar como Nápoles e Rio de Janeiro se encontraram na história da arte, por meio do olhar construído, pela criação artística, em torno da paisagem das duas cidades.
A exposição reúne quadros de diversos pintores italianos estabelecidos no Brasil no século XIX, entre eles Luigi Stallone, que veio de Nápoles para ser professor de pintura da imperatriz D. Teresa Cristina, além de obras de Edoardo de Martino, também napolitano, que, depois de fazer carreira no Rio de Janeiro, se tornou pintor da corte britânica da Rainha Vitória e fez sucesso com suas vistas noturnas. A selação apresenta ainda peças de Nicolau Facchinetti, autor das mais celebradas vistas da Baía de Guanabara, lembrando que ele teve intensa atuação como professor de pintura, com alunos como Maria Fornero, uma das poucas e destacadas mulheres pintoras do Brasil no século XIX.

Anna, M. d’ – Le LL. MM. l’Imperatrice del Brasile, il Re e la Regina del Regno della due Sicilie che visitono la Imperiale Fregata la “Costituzione” nelle rada di Napoli en giugno 1843, 1844 (Biblioteca Nacional)
Já as telas de museus italianos representam as duas vertentes da pintura de paisagem napolitana e de grande repercussão naquele tempo, incluindo telas de Giacinto Gigante, um dos mestres da Escola de Posillipo, e de Marco de Gregorio, um dos nomes de destaque da Escola de Resina. Os dois grupos de pintores identificados com localidades da região napolitana são conhecidos por renovarem a pintura de paisagem no século XIX, a partir de um olhar que valoriza a experiência sensorial, explorando as variações de luz e das cores ao longo do dia e da noite, conferindo caráter subjetivo ao ambiente.
Essa renovação do olhar sobre a paisagem é contemporânea à invenção da fotografia. Assim, a exposição propõe ainda o diálogo entre a criação fotográfica de Camilo Vedani, fotógrafo paisagista italiano que se estabeleceu no Rio de Janeiro em 1859, e as imagens de Giorgio Sommer, que na mesma época se tornou o fotógrafo mais conhecido de Nápoles.

Giacinto Gigante, “Nápoles vista da Canocchia, séc. XIX”, Certosa e Museo di San Martino (Nápoles, Itália).

Giorgio Sommer, “Nápoles Santa Lucia, c. 1870”, Nápoles, coleção Speranza.
“A exposição traz um número significativo de pinturas e fotografias italianas nunca antes apresentadas entre nós, estabelecendo um diálogo entre a pintura de paisagem no Brasil do século XIX com a criação artística italiana da região siciliana de Nápoles da mesma época. Esse diálogo é sempre mencionado pela crítica de arte, mas poucas vezes aprofundado por falta de acesso às imagens artísticas. Por outro lado, a exposição destaca a importância do casamento de D. Pedro II com D. Teresa Cristina para a história da arte no Brasil”, afirma o curador, Paulo Knauss.
Para a diretora do Instituto Italiano de Cultura, Livia Raponi, idealizadora do projeto e responsável pela concepção geral junto com Knauss, “a importância e o caráter inovador desta exposição residem não só no dado puramente artístico, na excelência das obras pictóricas, mas também na riqueza dos temas e linguagens abarcados, apresentando uma trama densa de relações culturais e antropológicas entre Nápoles e Rio, entre a Itália e o Brasil, que passa pela música, parte instigante do percurso expositivo, a arqueologia e a fotografia”.

Gonsalvo Carelli, “Nápoles vista do mar, séc. XIX”, Certosa e Museo di San Martino (Nápoles, Itália).

Camillo Vedani, “Panorama da Marinha da Cidade (Porto do Rio de Janeiro), ca. 1865 – Camillo Vedani/ Coleção Gilberto Ferrez/ Acervo Instituto Moreira Salles.
“Cores da Paisagem” é organizada em quatro módulos que exploram as cores da representação do dia e da noite, da terra e do mar, passando pelos matizes do preto e branco da fotografia, apresentando um conjunto de cerca de 50 pinturas italianas e brasileiras, datadas de 1844 a 1899, além de fotografias daquela época. As obras vêm dos acervos da Certosa e Museo di San Martino e do Museo di Capodimonte, ambos em Nápoles, Casa da Marquesa de Santos e Museu Antonio Parreiras (Funarj), Museu de Arte do Rio/MAR, Museu da República/Ibram, Museu Nacional de Belas Artes/Ibram, Casa Geyer/Museu Imperial/Ibram, Museu da Vida/Fiocruz, Museu Naval e Fundação Biblioteca Nacional. As fotografias pertencem à Coleção Speranza, acervo particular italiano, e à Coleção Gilberto Ferrez do Instituto Moreira Salles.
A exposição é uma realização do Instituto Italiano de Cultura com o Paço Imperial/Iphan e tem o apoio do Consulado Geral da Itália no Rio de Janeiro e da Generali. Sob a curadoria de Paulo Knauss e com curadoria adjunta para arte italiana de Fernanda Capobianco, a produção é de Artepadilla.
“Cores da Paisagem – Nápoles-Rio no olhar de artistas italianos do século XIX” poderá ser visitada até 12 de fevereiro de 2023. A entrada é gratuita. O Paço Imperial fica na Praça Quinze de Novembro, Centro – RJ.

Giacinto Gigante, “A Vila Real ao entardecer (frente) Capri vista da Massa Lubrense (verso), séc. XIX” – Certosa e Museo di San Martino (Nápoles, Itália).