“Gavetas, cofres e armários são solidários com todos os esconderijos em que o homem, o grande sonhador das fechaduras, encerra ou dissimula seus segredos. Estes cofres não são suficientemente grandes para conter um mundo de ideias, entretanto carregam, sempre, um poder mágico”: assim Mario Camargo explica o tema da coletiva sob sua curadoria que ocupa o Centro Cultural Correios Rio.

Os artistas selecionados – Alice Gelli, Claudio Montagna, Gabi Gelli, Henrique Kalckmann, Jack Motta, Margaret de Castro, Marcelo Rezende, Marina Ribas, Mario Camargo, Mark Engel, Patricia Borges, Sandra Sartori e Solange Jansen – equilibram em suas obras técnicas diversas, com pequenos e grandes formatos. Costura sobre papel de seda, fotocolagens em lona com interferências de tinta acrílica, óxidos de ferro e sais sobre papel de algodão exposto ao sol, fibra de vidro, parafina derretida, costura industrial, fotografia, acrílica e tinta serigráfica, tecidos nobres e até miçangas compõem pinturas, instalações e objetos escultóricos que ocupam três salas no 2º andar do Centro Cultural Correios até o dia 19 de novembro.

Mario Camargo

“A imaginação é totalmente metafórica. O verdadeiro armário não é um móvel cotidiano. Não se abre todos os dias e nem para qualquer um. Da mesma forma a chave, de uma alma que não se entrega, não está na porta. Com esta metáfora, poderíamos dizer que os 13 artistas abrirão seus cofres, armários e gavetas, com a chave de seus sonhos, para mostrar o interior de seus ateliês”, acrescenta Mario Camargo.

Mark Engel

“Os objetos de conhecimento privilegiados do espaço do saber são intelectuais coletivos de nossos mundos. O objetivo privilegiado do espaço não é o objetivo das ciências humanas, mas a figura ou imagens geradas nestes espaços. As imagens são evidências sensíveis que revelam a existência de um comum e dos recortes que nele definem lugares e partes respectivas. O ruído que corrói, desorganiza e ao mesmo tempo cria, mistura e apaga, e nos dá a ver a parte que não tinha parte.

Trata-se da hierarquia dos espaços sensíveis que se opõe à imagem conhecida e controlada da imagem desconhecida.

Com este tema, vamos retornar contato com o insondável das reservas dos devaneios e das intimidades.

Ao contrário da imagem, a obra da Imaginação absoluta, extrai todo o seu ser do pensamento nas intimidades guardadas em espaços que não se abrem para qualquer um – testemunho da inteligência do esconderijo.

Para o poeta e filósofo Antônio Cicero, para guardar um algo é melhor não trancá-lo em um cofre. Guardar é olhá-lo, iluminá-lo, vigiá-lo.

Melhor o voo de um pássaro do que uma gaiola.

Concluímos que ao iluminá-lo, atribuímos aos trabalhos o poder da vida – o poder da criação.

Neste conjunto de obras vamos desafiar o indiscreto em vez de amedrontá-lo, mostrando todo o poder de deixar descoberto e ter a indiscrição da revelação satisfeita capaz de nos deixar a ver o imperceptível. Aquilo que antes chamamos de ruído pode ser a voz daqueles que não falam nossas línguas.

A presença do dissenso dentro do consenso nos dá a ver o invisível – uma recolocação dos espaços e das imagens. A cristalização dos espaços e o esfumaçamento das fronteiras cria novas constelações do sensível.

Esta exposição é uma forma de revelação, que se situa entre O Cristal e a Fumaça, ou seja, entre a ordem redundante e o caos.”

Mario Camargo, curador

“Gavetas, cofres, armários” pode ser visitada até 19 de novembro.

Sandra Sartori