Certa noite, após um estrondo desavisado, acordou atônito em meio a um sonho fragmentado, despedaçado em cacos pelo chão de seu ateliê. Limpou seus olhos — em busca de ver o mundo como se o mirasse pela primeira vez, novamente, quem sabe — e mirou o ambiente ao seu redor.
Não era o apocalipse per se, tampouco se tratava de uma tragédia anunciada.
Havia fogo e barro, argila em brasa, pedaços robustos de cerâmica espalhados por todo o chão, como que estendido feito um tapete vermelho a encaminhá-lo para um novo mundo.
trecho do texto “O artista, um arqueólogo do futuro” (2022), por Victor Gorgulho

A Gentil Carioca apresenta a exposição individual “Livro de Quartzo”, por Rodrigo Torres. A mostra convida o  público a ver de perto uma expansão não apenas técnica, mas também conceitual do corpo de obras que revelam um estado convulsivo e catártico de sua criação. Rodrigo tensiona a dimensão “decorativa” das cerâmicas, exibindo esculturas que evocam formas diversas, nos permitindo, ainda, experienciar suas insuspeitadas potencialidades sonoras e musicais. Feitas de fogo, água, ar e terra, uma a uma, e juntas em um desconcertantemente belo coletivo de seres enigmáticos, parecem não temer a nada nem ninguém.

“Livro de Quartzo” pode ser visitada até 30 de julho.