O Brasil tem 1,7 milhão de indígenas. São 305 povos, presentes em 86,7% dos municípios brasileiros, e falantes de mais de 200 línguas. Para criar pontes e diálogos com a pluralidade desse universo repleto de simbologia, o Indigenas.BR – Festival de Músicas Indígenas, evento realizado pelo Centro Cultural Vale Maranhão (CCVM), chega a sua 5ª edição, que se estende até 12 de agosto e traz em sua programação cantos, histórias, ancestralidades, diferentes tradições sonoras e perspectivas estéticas, além de materiais inéditos de artistas de todo o Brasil.
Com curadoria de Djuena Tikuna e Magda Pucci, esta quinta edição do festival apresenta dois documentários inéditos, produzidos pelo CCVM: Os Warao de Upaon-Açu, dirigido por Priscila Tapajowara e Carlos Magalhães, e Wyty: Os cantos de resistência Gavião Pykopjê, dirigido por Djuena Tikuna, Diego Janatã e Vinicius Berger.

Wyty Os cantos de resistência Gavião Pykopjê
O primeiro acompanha os Warao, povo originário da região do Delta do rio Orinoco, na Venezuela, que desde 2019 vive na Grande Ilha de São Luís, principalmente na cidade de São José de Ribamar. O segundo apresenta um dos ritos de iniciação responsáveis por manter viva a tradição Gavião Pykopjê de cantos como herança para as novas gerações, para que se mantenham sempre em alegria.
Os filmes levam parte do evento para todo o Brasil, com a possibilidade de acesso ao conteúdo pelo canal do Youtube do Centro Cultural Vale Maranhão por tempo ilimitado. O programa ainda prevê apresentações, oficinas e momentos de troca de saberes entre lideranças espirituais de diferentes povos e, também, entre artistas da cena musical contemporânea indígena.
“A cada edição do festival Indigenas.BR, galgamos mais espaço de representatividade e voz ativa para as diversas etnias que sustentam cotidianamente a cultura e preservação do país. O espaço do festival coloca em evidência outras formas de existir pautadas na manutenção da vida. O encontro tem ganhado importância para o avanço das pautas indígenas e para a formação de um novo olhar sobre a diversidade, sustentabilidade e originalidade da cultura, entre outros aspectos urgentes que apontam para o futuro”, conta Gabriel Gutierrez, diretor do Centro Cultural Vale Maranhão.

Os Warao de Upaon-Açu
O festival promove o encontro, no pátio do CCVM, das mulheres Krikati (MA), músicos rionegrinos do Grupo Bayaroá (AM), cantantes do grupo Okaragwyje Taperendy do povo Guarani Kaiowá (MS), além dos Warao, grupo indígena venezuelano em processo de retomada cultural de suas tradições.
“Abrir os ouvidos para as diferentes tradições sonoras indígenas é um dos principais objetivos do festival. Nós temos dificuldade em compreender as musicalidades dos 305 povos indígenas que vivem no Brasil. Sendo falantes de mais de 200 línguas, já é possível imaginar a grande diversidade sonoro-linguística que cada canto traz com fonemas que sequer conseguimos pronunciar corretamente. E quando nos voltamos para a escuta atenta dessas vozes, percebemos que não conhecemos nada desse país multicultural que é o Brasil”, reforça Magda Pucci, curadora do evento.
Na programação, haverá também a participação dos Guardiões da Memória do projeto Vidas Indígenas Maranhão, realizado pelo Museu da Pessoa, com patrocínio do Instituto Cultural Vale, que formou jovens dos povos Ka’apor, Awa-Guajá e Guajajara em audiovisual e realizou ações de preservação e divulgação de histórias de vida da comunidade. Os guardiões ministrarão uma oficina que convida os participantes a preservarem suas memórias por meio da contação de histórias. Os documentários produzidos no projeto serão expostos durante o festival em uma instalação no CCVM.

Wyty Os cantos de resistência Gavião Pykopjê
O festival proporciona o encontro de musicalidades tradicionais de povos originários com artistas de novas gerações, que mesclam sonoridades ancestrais a tecnologias. Ian Wapichana com participação de Brisa Flow e Guildy Blan trazem para o festival a contemporaneidade e refletem sobre o papel da música como arma de luta e resistência.
Além das apresentações musicais, o festival oferece oficinas e rodas de conversa com integrantes dos grupos participantes, gerando um espaço de reflexão e contato direto com as formas de fazer música desses povos. Nas conversas abertas, haverá tanto a presença de lideranças espirituais na Casa do Saber assim como de jovens músicos para discutir sobre a cena da música indígena contemporânea.
“Para nós, o Indígenas.BR já está no calendário cultural dos grupos e fazedores de cultura indígena, não só da região amazônica, mas de todo o país. É um grande encontro, feito para mostrar a força de nossa cultura, que é orgânica, futurista, ancestral e contemporânea”, conta a jornalista, cantora e curadora do festival, Djuena Tikuna.
Serviço: a estreia do documentário “WYTY: Os Cantos de Resistência Gavião Pykopjê”, com direção de Djuena Tikuna e Diego Janatã e Vinicius Berger, acontece no sábado (12), às 20h, e será seguido de uma palestra de D. Irene Gavião.
O CCVM fica na Rua Direita 149, no Centro Histórico.