Fazer esta pergunta olhando-se no próprio espelho deve ser uma das coisas mais aterradoras e terríveis que pode haver. É o momento em que não olhamos pro espelho para nos admirar ou ver algum defeito; é a perda da identidade. Coisa que nem sempre pode ser resolvida.

Este assunto está na minha cabeça há semanas. Quando Gabriel Garcia Marquez ganhou o prêmio Nobel de literatura dizia ser este o seu critério de escolha para escrever sobre algum assunto. Nunca mais me esqueci disso, e foi em 1984 ou 85. Resolvi ir adiante, porque o choque foi enorme.

Desde que vi as fotos de Renée Zellweger, sem saber o que havia acontecido, fiquei aterrorizada num primeiro momento e consternada depois disso. Fiquei com pena dela. Nunca havia visto tamanha transformação numa pessoa tão nova, sem aberrações: Explico: seu rosto não foi deformado por preenchimentos, maus profissionais, ela não ficou feia ou assustadora. Ela mudou. Deixou de ser quem era. E se é que se pode interpretar o olhar de uma pessoa que passou a ter olhos tão diferentes, este parece ser muito triste…

Sempre a achei uma graça. E muito corajosa. Afinal, uma mulher ainda mais nova do que os seus 44 anos de agora, topar engordar tanto para fazer dois papéis no cinema e voltar maravilhosamente bem ao seu corpo não é pra qualquer uma, não. Ainda mais no mundo em que vivemos e no mundo em que ela vive: Hollywood. Sempre me perguntei se isso não teria deixado rastros emocionais em seu inconsciente ou até mesmo num nível maior de consciência. Da  primeira vez ela ficou muito, muito magra após o regime. Mas nunca mais pensei nisso.

Até hoje, acho que só Robert De Niro cumpriu essa tarefa sem sequelas quando precisou engordar trinta quilos para protagonizar “Touro Indomável”, no final dos anos 70. Mas ele é homem, tudo é mais fácil no padrão de beleza, até mesmo o metabolismo masculino ajuda.

Agora, ao saber que ela achou que precisava se reinventar por não ter tido papéis nos últimos cinco anos e que o caminho escolhido foi o bisturi, pensei que ela precisava mesmo era de um bom psicanalista pra botar a casa em ordem.

A sociedade americana tem esses movimentos esquisitos, muitas vezes até “contados” por eles próprios em seus filmes. O sujeito_ ator, famoso, embriagado ou toxicômano_ cai em desgraça depois de quebrar não sei quantos quartos de hotel, ser preso dirigindo embriagado, atropelado uns tantos incautos. Mas aí  vem o agente ou alguem com expertise no ramo de imagem, arranja-lhe um bom casamento, escreve um livro como uma forma de redenção e voilá ! Rapidinho surgem roteiros melhores, bilheteria bombando e logo logo um belíssimo salário. Foi assim com Robert Downey Jr., que ninguém acreditava que sairia do poço e com Anne Heche, namorada da lésbica mais famosa e leia-se respeitada dos EUA nos anos 90, frequentadora da Casa Branca na era Clinton, a quem claramente fez de escada. Foi execrada, chamada de louca, escreveu um livro, protagonizou minisséries para a TV, casou, teve filho, separou e casou-se novamente. Isto é Hollywood !

Sou absolutamente a favor da cirurgia plástica, mas bem pensada e pra dar um upgrade no visual. Assim como tratar bem a pele e a cabeça para que o resultado, físico e psicológico, seja o melhor possível. Várias pessoas, homens e mulheres, planejam esta etapa e têm resultados muito, muito bons. A exemplo da deusa Julia Roberts que fez bem masis nova e tem, cada vez mais, ares de diva. Quem não se deixa inspirar por ela?

Julia mostra que sabe o que quer e a quem procurar. Quem operou Renée, decididamnete não era um cirurgião sério, ético. Mas provou ser excelentes em transformações extremas. Ela ficou mesmo irreconhecível.Coitada da Renée que caiu neste conto absurdo. Quando a vejo sorrir em seu novo rosto, coisa com a qual ainda não me acostumei, parece-me uma pessoa conformada e triste, aprisionada em sua nova realidade, da qual não pode fugir.

Acho sinceramente  que ela fez um péssimo negócio e que mesmo que Hollywood a absolva, dessa jaula em que se meteu, jamais sairá.