Conhecido por transformar objetos descartados, como tecidos e sucata de metais, madeira e roupas velhas em esculturas, John Outterbridge foi um dos representantes dos Estados Unidos na 22ª Bienal de São Paulo – Ruptura com o suporte (1994).

Com curadoria de Nelson Aguilar, a 22ª edição levou questões internas ao campo da arte para o debate público, como o questionamento dos suportes clássicos – pintura, escultura, desenho etc. A Bienal de 1994 também teve uma grande adesão de representações nacionais, que somaram mais de 181 artistas de 70 países. A participação dos Estados Unidos, por sua vez, foi curada por Lizzetta Lefalle-Collins, que selecionou os artistas John Outterbridge e Betye Saar, ambos conhecidos por trabalhos de cunho político e social, que utilizam a iconografia para transmitir seus sistemas de crença, e falar sobre a passagem de tempo e a memória.

Nos anos 1960 e 70, o estadunidense foi um dos principais artistas negros a criar assemblages – termo incorporado às artes em 1953, cunhado pelo pintor e gravador francês Jean Dubuffet (1901-1985) para fazer referência a trabalhos que, para ele, “vão além das colagens”. Para Outterbridge, objetos do dia a dia, sobras de madeira, trapos, metal enferrujado, tudo era material para suas assemblages, que contavam histórias sobre sua cultura, raça e sobre sua própria vida.

Uma de suas séries exibidas na 22ª Bienal de São Paulo foi Containment [Contenção] que trata da repressão de corpos ao longo da história. As obras que compunham a série consistiam em armaduras de madeira cobertas com folhas de metal para criar a ilusão de volume e peso, às vezes incorporando tiras, fivelas ou laços que evocam noções de restrição física, opressão racial e escravidão. John Outterbridge faleceu no dia 23 de dezembro de 2020, aos 87 anos.