Vilmar Madruga

A mostra do pintor inglês Francis Bacon atualmente em exposicao no Beaubourg de Paris é tão intraduzível quanto seu titulo: Bacon em toutes lettres. Tanto nos retratos povoados de rostos irreconheciveis até os grandes formatos e tripicos, o artista apresenta fase de pleno domínio técnico e de linguagem, revelando equilíbrio e fúria sobre cada tela.

Trata-se do maior numero de obras inéditas já vistas do pintor. Em precisas construções Bacon ilumina cenas de corpos em luta, amantes mutilados, filtrados por uma impiedosa luz de morte e solidão, onde o pintor expõe as vísceras do drama humano. Numa montagem irrepreensível, há nichos de salas espalhados pela mostra, onde ouvimos locuções de textos de autores lidos pelo pintor. Escritores que ele considerava de sua família espiritual e que influenciaram suas produções: Ésquilo, Proust, Nietzsche, Bataille. Há muitas surpresas nessa especie de solene instalação do caos. Uma exposição memorável para pensarmos a arte como gesto de fúria e porque não, encantamento.