Na próxima sexta-feira, dia 02, às 16h, a Biblioteca-Parque Estadual do Rio de Janeiro inaugura a exposição “Sala de Leitura”. Com obras de 20 artistas visuais e curadoria de Osvaldo Carvalho, a mostra propõe uma reflexão em torno do ato de ler, seja por meio da palavra, seja por meio da imagem: da decodificação à interpretação, do signo ao significado. Integram a coletiva os artistas Ana Herter, Angela Rolim, Cecilia Cipriano, Claudia Malaguti, Gilda Lima, Grasi Fernasky, Hudson Lima, Isabela Frade, Jo Iocken, João Moura, Júnia Azevedo, Ligia Calheiros, Marciah Rommes, Miro PS, Petrillo, Roberto Tavares, Rosi Baetas, Sandra Macedo e Teresa Stengel. Com coordenação de Lia do Rio, “Sala de Leitura” poderá ser visitada até 6 de setembro.

A exposição reúne cerca de 50 obras de técnicas variadas: pintura, desenho, escultura, fotografia, assemblage, colagem, videoarte, gravura, objeto e instalação. Além do espaço expositivo, o evento prevê outras atividades culturais. Na abertura, durante a tarde de sexta-feira, um “flash mob” com artistas e convidados pretende surpreender os passantes pela rua, em frente à biblioteca, na Avenida Presidente Vargas. Outra atração do vernissage é a performance de Isabela Frade. Ao longo da exposição serão oferecidas ao público oficinas de arte, conversas e mostra de vídeos.

De acordo com o curador, a ideia é trazer para quem visita a exposição a compreensão maior do que está por trás dos trabalhos expostos. “Como diz Paulo Freire, é preciso ter a capacidade de ler nas entrelinhas, senão, quando oprimidos, acabaremos agindo como nossos opressores. O indivíduo que compreende sua realidade é capaz de procurar soluções para transformá-la, rompendo com a sina de repetir os erros do passado”, explica Osvaldo Carvalho. “A exposição traz a sala de leitura como lugar desse acontecimento, da transformação do sujeito que busca conhecer e modificar o mundo a sua volta”, acrescenta o curador.

“Não há saber mais, nem saber menos, há saberes diferentes.” Paulo Freire

“A proposta feita aos artistas de pensarem formas de lidar com a leitura, nesse caso não apenas em sentido estrito (leitura da escrita), mas, algo mais, a leitura de uma obra de arte, de uma curadoria, enfim, de uma mostra em todas as suas particularidades, foi, acima de tudo, em razão da percepção de realidades distorcidas, construídas intencionalmente com o desejo de nivelar pelo absurdo o caráter reflexivo do ser humano, desprover de profundidade qualquer questão, tornando raso o modo como investigamos os fatos.

Hoje, trocam-se estudos científicos por posts em redes sociais, palestras e congressos científicos por blogs e vlogs de opinião, livros por aplicativos de mensagens, salas de aula por salas de chat.

Trazer para o público que visita uma exposição a compreensão maior do que está por trás dos trabalhos expostos, o encontro de pessoas, o contato pessoal, a fala que se constitui em diálogo, o acordo de ideias, não por imposição, mas por consenso, é tarefa árdua tanto quanto prazerosa, requer ajustes, bom senso, harmonia, substantivos nobres que carregam o peso da sabedoria, outro substantivo caro aos nossos dias.

Sala de Aula é assim, como pensou o patrono da educação brasileira, Paulo Freire, a celebração de saberes diferenciados construídos não pelo isolamento virtual, ao contrário, pela relação entre os artistas participantes, pelo convívio com a arte, o que requer presença, proximidade, ver e ouvir o outro, gostar “de ser gente porque, inacabado, saber-se um ser condicionado, mas consciente do inacabamento, saber que pode ir mais além”.

A arte é sempre a primeira vilipendiada sobre a qual recaem mágoas, frustrações e, o pior, preconceitos, quando valores são perdidos, ou melhor dizendo, quando a desconstrução do real se impõe vividamente e precisa de um inimigo comum.

E não muito longe da arte, a sofrer as mesmas consequências está a educação. Parafraseando o mestre, é preciso saber ler mais adiante das entrelinhas ou, quando oprimidos, quereremos ser como nossos opressores; por isso, aquele que compreende sua realidade pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções para transformá-la.

Essa exposição traz a sala de leitura como lugar desse acontecimento, a transformação do sujeito que busca conhecer e modificar o mundo a sua volta.”

Osvaldo Carvalho, curador

A Biblioteca Parque-Estadual fica na Av. Presidente Vargas 1.261, no Centro. A entrada é franca e a classificação etária, livre.