A palavra título, na verdade inventada, se formou em etapas. Nasceu do reencontro, quando, numa visita ao Brasil, meu filho Chris, então pequeno, e Edgar, meu irmão, começaram a se chamar de man pra cá, man pra lá. “How are you man?”, transformou-se  em,  “Hi man, tudo bem?”, e, da incorporação do termo `a nossa língua, surgiram as frases, “Man, vamos surfar?”, ou “ Assim não dá, man”, e por ai afora.

Chris, na sua vozinha fina, ficava muito fofo tratando o tio de igual pra igual, “man to man”, literalmente, e o afeto entrou em cena. Como diz Edgar, Chris ja nasceu se achando adulto. Do companheirismo entre os dois, nessa língua portuguesa que tão bem usa o diminutivo como acolhimento e carinho, não tardou para que de man,meu irmão passasse a chamar Chris de Manzinho.

Man pra ca, Manzinho pra lá, o diálogo deles sempre me fazia rir,  expressando bem o humor que os dois repartem na sua proximidade através dos anos; na liberdade do amor criativo que Edgar manifesta nas palavras, e na irmandade com que Chris o compreende.

Edgar, sempre bom em dar apelidos, quando não inventa nomes da primeira `a última letra, altera partes de palavras, misturando-as a sílabas estrangeiras, ou lhes dando mesmo, como no caso de man, sufixos de línguas diferentes. Seja o que for, o resultado sempre expressa sua ternura, como se, diante do coração, as regras gramaticais, os limites linguisticos, e o abismo entre idiomas, não tenha mesmo  direito de existir. Por isso, suas obras de criação verbal não só trazem o riso, da liberdade anarquista com que ele as forma, como o calor, do coração que as inventa. Na mesma linha, Chris o chama agora, de Manzão.

Respondendo por Man ou Manzão, e continuando a chamar Chris de Manzinho, Edgar um dia me diz, acho que no telefone, “…ta bem Manzinha.” Nossa, como eu ri. A palavra Manzinha é a mais rica que conheço, não só por evocar anos de fraternidade, senhas em comum, rebeldia a regras, e a ternura de uma cumplicidade irreverente. Representando também o pacto  que espontaneamente honramos da liberdade transgressora de tudo que é estagnado, convencional, e categorizado, Manzinha contém em si a familiaridade suficientemente imemorial para poder dispensar, também,  a separação entre masculino e feminino,  amalgamando-os na mesma entidade. No seu ilimitado, Manzinha diz tudo, até mesmo nossa  paixão em comum pela obra de Marcel Proust, que é outra manifestação de liberdade, no caso, a liberdade do espírito contemplativo. E, por Manzão ter feito em Bordeaux, a escultura do escritor francês em tamanho natural, para ser inaugurada em Cabourg, na data de aniversário deste, eu, Manzinha, participando de coração desse projeto, vim encontra-lo em território francês, onde, felizmente, me encontro agora.